PELA ESTRADA

Meu avô José era um homem de muita fé.
Uma pessoa positiva. Sábia. Cheio de boas histórias. Alegre!
E que se importava muito com a família.
Ele poderia discordar sobre diversos assuntos, mas jamais era indiferente com aqueles que amava.
Indiferente mesmo, acho que só com os carros pela estrada, enquanto pedalava sua bicicleta.
E vivia a liberdade de ir e vir para onde quisesse.

Tive a sorte da certeza do quanto comigo ele se importava.
Quando minha vida era feita toda de questionamentos, ele me trazia suas respostas.
Um gesto de amor.

A vida para ele era simples. E rica de significado.
Alguns dos seus passos estão marcados em mim. Já não vive mais entre nós,
mas permanece vivo em minha vida.
E mesmo sem eu compreender claramente, parece ainda me ajudar de alguma forma.

Um dia, em um sonho, me vi caminhar por uma estrada. De pó. Seca.
Não havia nada à minha volta, senão a própria estrada.
Até surgir inesperadamente um caminhão. E que parou exatamente ao meu lado.
A porta se abriu e lá estava meu avô José na direção.
Estendeu as mãos para mim, pedindo que me sentasse ao seu lado.
E perguntou qual a quantia de dinheiro que eu precisava. Sem eu nada dizer,
retirou de sua capanga algumas notas, e me entregou.
Me deu um forte abraço, e o sonho desfez-se.

Naqueles dias, eu enfrentava alguma dificuldade financeira e me sentia completamente sozinha para resolvê-la.
Menos de duas semanas transcorridas, recebo também de forma inesperada,
a notícia de que meu tio-padrinho Manoel havia mandado cortar os pinheiros de um vasto terreno
da família em Portugal, proveniente de meu avô.
E toda aquela madeira foi vendida como lenha.
A parte da quantia que me cabia de direito era exatamente a quantia de que eu precisava.

São poucas as certezas que tenho na vida.
Uma delas, é que estamos todos de passagem por aqui.
Outra, é que quando o amor existe, não morre jamais.
E permanece na estrada.

Ana Martins

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