Quase todos os dias vou ao supermercado fazer umas comprinhas. Compro sempre muitos supérfluos.
Quinta-feira passada, ao deixar o estacionamento com minhas compras, notei um mendigo cabisbaixo. E ao lado dele, um violão.
Não consegui seguir sem antes voltar atrás para olhá-lo novamente.
Ele levantou a cabeça e me fitou com um olhar distante. Nem sofrido, nem alegre.
Não hesitei ao perguntar se estava tudo bem com ele.
A resposta? -"tudo bem".
O rosto dele mostrou-se mais sereno.
Perguntei sobre o violão ao seu lado, e ele me disse que era tudo o que tinha.
Mas continuei: -"tem história também para contar, não tem?"
Ele não entendeu bem minha pergunta, mas depois disse-me que sim.
Foi quando pedi para ele me contar uma história.
Ele perguntou: -"do violão?"
Falei: -"Claro, pode ser!"
Então ele me contou que antes ele tinha uma casinha e sua esposa.
Não disse onde, nem como era a casa. Mas disse-me que um dia, após uma forte tempestade,
ao chegar onde morava, não encontrou mais a casa de pé. E sua mulher tinha-se ido também em meio aos escombros.
A única coisa que ele conseguiu recuperar foi seu violão.
Desde então, o que ele mais gosta de tocar são as músicas que sua mulher gostava de ouvir
quando ainda estava ao seu lado.
Encontrei serenidade em quem (quase) não tem nada.
Ana Martins
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